Para Economist, Lula só se candidata em 2018 com cenário favorável
AFP/AFP - A presidente reeleita, Dilma Rousseff (E), saúda simpatizantes, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília
Lula deve ter uma presença mais forte no segundo mandato de Dilma para pressioná-la a fazer as reformas econômicas necessárias que permitam retomada de crescimento e atração de investimentos. Essa é a opinião comum aos participantes de uma entrevista coletiva do lançamento do escritório brasileiro da unidade de consultoria da revista britânica The Economist.
Apesar da retórica agressiva de Lula contra o sistema bancário e o mercado internacional, o chefe da sucursal de São Paulo da Economist, Jan Piotrowski, vê o ex-presidente como um interlocutor muito mais amistoso para os investimentos externos do que Dilma. “Lula é muito pragmático e não se deixa levar por discursos ideológicos. Uma participação maior dele significaria uma maior flexibilidade do governo para as reformas necessárias”, afirmou.
Na opinião de Piotrowski, Lula tende a não se candidatar em 2018 caso a economia esteja irremediavelmente comprometida – leia-se com um crescimento baixo, inflação persistente e escasso investimento externo. “Politicamente, interessa a ele que o Brasil volte a ser um mercado atraente e aqueça a economia”, disse. Segundo o jornalista, um eventual novo mandato dele em 2018, com a economia comprometida, seria muito mais desconfortável.
Na apresentação do relatório de previsões para a economia brasileira, a diretora regional da Economist Intelligence Unit, Irene Mia, traçou um quadro que prevê um crescimento insuficiente para a geração de empregos necessária até 2018, juntamente com a insistência da inflação na casa dos 6% anuais. Segundo ela, o cenário, combinado com dificuldades políticas causadas pela diminuição da bancada governista e um ambiente internacional com os investidores mais cautelosos pode deixar o Brasil numa situação complicada no médio prazo.
“O mercado global tende a ficar mais competitivo nos próximos anos e os investidores priorizarão os países que tiverem ambientes mais favoráveis”, afirmou Mia. “O Brasil tem avaliações muito ruins no que se refere à política fiscal e intervencionismo do governo na economia. Uma mudança de rumo nesses aspectos pode ser decisiva para garantir investimentos”, disse.
Segundo um relatório da Economist, a política fiscal, uma “política macroeconômica errática” e um péssimo desempenho educacional são as maiores fontes de preocupação para investidores externos. Outro problema é a qualificação da mão de obra: segundo dados do o IBGE, o Brasil tem 46 milhões de analfabetos completos ou funcionais (aqueles que vão pouco além de conseguir assinar o nome). “Mais de 90% das empresas que se estabelecem no Brasil têm dificuldade de recrutar mão-de-obra minimamente qualificada”, afirmou a diretora.
Mia e Piotrowski concordam que os programas sociais dificilmente seriam afetados, mesmo que a previsão econômica declinante se confirme. “O Bolsa Família é, além de eficiente, pequeno em relação ao PIB”, disse Mia. Já no que diz respeito à avaliação dos títulos brasileiros pelas agências de classificação de crédito tendem a cair a partir de 2016 se não ocorrerem as reformas – especialmente a reforma fiscal. (com agências)
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