As recentes revelações de executivos e ex-executivos da Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato podem gerar desconforto e provocar as saídas de alguns ministros, segundo o presidente Michel Temer. O jornal O Estado de São Paulo divulgou nesta segunda-feira que o chefe de Estado afirmou que alguns integrantes do atual governo podem ficar desconfortáveis e deixar a gestão de maneira voluntária.
Temer reiterou, porém, que só irá afastar temporariamente os ministros se houver denúncia formal do Ministério Público. O afastamento definitivo só virá caso os citados se tornarem réus. "Não vou demitir simplesmente porque alguém falou, é preciso provas robustas. Se vier a denúncia, não significa culpabilidade completa, mas terá fortíssimas indicações de que a delação é correta", disse.
Para o presidente, dificilmente as eventuais denúncias vão demorar para serem apresentadas. "A Ordem dos Advogados do Brasil está entrando com representação hoje para acelerar as investigações. Por isso, não creio que as denúncias venham só no ano que vem. Acho que virão rápido. E o governo está interessado em que tudo seja feito da forma mais rápida possível", destacou.
Temer também admitiu que de fato as delações são estarrecedoras e preocupantes, principalmente porque transmitem uma imagem ruim do Brasil para o exterior. "Sob esse ponto de vista é péssimo." Mas ele disse que o País precisa seguir em frente. "O Brasil não pode parar. Temos reformas pela frente. Então (as delações) são estarrecedoras, mas não podem ser fator de paralisia. Agora precisamos deixar o Judiciário trabalhar", reforçou o presidente.
Sobre um possível acordão para paralisar com a Operação Lava Jato entre ele e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, Temer negou mais uma vez sua participação em qualquer pacto desse tipo. "Não tem conversa na direção de um possível acordão, FHC já negou. Fazer acordão para problema que está no Judiciário é inviável. Não participo e nem promovo", disse.
Reforma da Previdência
O presidente Michel Temer admitiu que, devido às mudanças no projeto de revisão da Previdência enviado ao Congresso, talvez seja necessário fazer uma nova reforma em 10 ou 15 anos. O projeto como concebido pelo governo era para durar de 30 a 40 anos, mas pode ser necessária uma nova reformulação em período menor.
Mas o presidente reafirmou que a reforma da Previdência será aprovada e que as adaptações são necessárias e são fruto da negociação com o Congresso. Ele ainda reforçou que as mudanças no projeto original não significam recuo.
Temer reconheceu, na entrevista, que o País vive um momento difícil por causa do conteúdo das delações da Odebrecht e aos inquéritos autorizados pelo STF, mas afirmou que seu governo está mobilizado para dar resposta positiva para o País. "Lava Jato faz seu trabalho, mas, na cabeça de alguns, pode indicar paralisia do País. Mas todo o governo está mobilizado."
Diante de perguntas sobre as dificuldades enfrentadas também no âmbito econômico, o peemedebista disse que assumiu o País depois de um "episódio traumático", o impeachment, e durante uma forte recessão.
O presidente então enumerou conquistas econômicas alcançadas em quase um ano de governo, como a aprovação da PEC do Teto, e voltou a citar a queda da inflação. "Brasil tinha 10% inflação e até o final do ano estará abaixo do centro da meta." Ele ainda garantiu que a reforma trabalhista será aprovada, principalmente porque foi resultado do diálogo entre trabalhadores e funcionários.
O presidente ainda rebateu a ideia de uma nova constituinte devido ao escândalo de corrupção, já que, segundo ele, as instituições estão funcionando normalmente. Ele, no entanto, defendeu uma reforma política. "O que vale é uma reforma política, que sairá invariavelmente e é fundamental para o País", disse. (ABr) Foto: Beto Barata/Presidencia da República /Estado S. Paulo
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